todavia
não há braços que sustentem
o peso da vida
O concreto esforço de erguer
essa coisa bruta
nos iguala a precária flor
terça-feira, 17 de novembro de 2009
segunda-feira, 26 de outubro de 2009
DEPOIS DE TI
Depois de ti
o que virá
sobre este incêndio
crepuscular
e rostos pasmos
ante a pergunta do
amanhã?
Depois deste dia
outro emanará da
calcária orquídea
do tempo
independente do teu ódio
o que virá
sobre este incêndio
crepuscular
e rostos pasmos
ante a pergunta do
amanhã?
Depois deste dia
outro emanará da
calcária orquídea
do tempo
independente do teu ódio
quarta-feira, 7 de outubro de 2009
AS FRUTAS
as frutas apodrecem
gastam o verniz da cor
-o vermelho
o verde
o amarelo-
e por serem frutas
perdem o tom
e morrem como frutas
sazonadas
gastam o verniz da cor
-o vermelho
o verde
o amarelo-
e por serem frutas
perdem o tom
e morrem como frutas
sazonadas
segunda-feira, 31 de agosto de 2009
terça-feira, 25 de agosto de 2009
quinta-feira, 20 de agosto de 2009
PARA QUE SERVE A POESIA (3)
o poema não causa
um distúrbio nas coisas
apenas transpõe o sono
a flor úmida da carne
por detrás do silêncio
acusa a sua forma
um distúrbio nas coisas
apenas transpõe o sono
a flor úmida da carne
por detrás do silêncio
acusa a sua forma
terça-feira, 4 de agosto de 2009
PARA QUE SERVE A POESIA
o que vaza da vida
o poema apreende num hálito
com seu gesto ilumina
a face imposta do silêncio
o instante solto no tempo
a poesia serve para dizer
que a vida é apenas um clarão
quando atinge a veia da realidade
o poema apreende num hálito
com seu gesto ilumina
a face imposta do silêncio
o instante solto no tempo
a poesia serve para dizer
que a vida é apenas um clarão
quando atinge a veia da realidade
terça-feira, 28 de julho de 2009
EM ALGUM PONTO REMOTO NO LITORAL DO CEARÁ
É sabido ou não sabido, mas que existe alguma falha orgânica na composição que forma a massa cerebral do cearense, isso existe. É um povo meio que destrambelhado em tudo que faz ou pensa sempre propenso ao exagero, notadamente nas conversas que se for coar o que há de verdade, pouco sobra. Não é um povo pusilânime, não. São lembranças épicas que ele traz gravadas no inconsciente coletivo dos neurônios. E é por ter uma humilde serventia, disposto sempre aos préstimos, é que ele foi identificado como uma raça sem contorno próprio, criação ou acidente de tantas misturas de cromossomos transmitidos por óvulos aos esbarrões com galas européias. Tudo isto resultou nesta raça alegre, festiva e porque não, feliz, uma característica desses gametas doidos que deram nova aparência e costumes a essa gente miscigenada, criando uma herança genética do índio, francês, holandesa e ibérica. O cearense ficou assim, afetado pelo agoniamento do sangue fervendo nas artérias, pelo solão cozinhando dentro da caixa craniana, uma aporrinhação de avexamento caminhando na medula como a lecitina. Não se diga ser uma raça degenerada, mas um povo que tem uma falha, localizada bem ali, em alguma parte do seu juízo, para ter esse jeito que tem de destrambelho. De outro modo não é possível entender essa gente, nem paleontologicamente, nem sociologicamente, nem hereditariamente, a não ser, atribuindo a ela, essa falha irreversível que ocorreu no cruzamento ao longo do tempo, sendo depurada pela seleção natural do agoniamento (ao que só sobra os cabra macho, porque a fama de valente vem do sangue ibérico chegado aqui por primeiro e esquentado no fogo do agreste), e decantada pela a acomodação da preguiça do índio na hora da sesta, porque ninguém é de ferro e se precisa fornicar de vez em quando.
Essas coisas não dão uma característica do perfil do cearense na hora da encrenca. Foi assim, bravo e destemido, quando nem Ceará ainda existia, nem esse mundão de terra que vieram a chamar de Brasil, que os nativos aqui vivendo de brisa, pesca e safadagem sem pecado, soltou a pocema sobre os primeiros europeus que por aqui chegaram à ponta do Mucuripe querendo se apossar do que não era deles. Foi sob cusparada, tabefe e muita peia com cipó de marmeleiro e cacete feito com vara de jucá, que os espanhóis foram enxotados daqui. E que nunca mais venham arredados de suas terras achando que aqui a gente é tudo besta. Um tempo depois foram os franceses. Aí o povo já estava mais preparado. Já não era tão só índio, era já um pouco dessa mistura que é hoje, que resultou no curiboca. E nem durou muito a desavença, visto que o branquela não agüentava bordoada como os espanhóis que têm sangue mouro, de gente acostumada com briga. Depois dessa farra de lutar, sobraram apenas alguns europeus, domesticados, mais besta que a bestagem do povo daqui, e estes loirinhos correndo pelo litoral, que dizem não saber de onde vieram.
Por isto quando se diz que o cearense é um destrambelhado, é porque ele é afetado por esta falha que faz dele um povo diferente, tão diferente, que sua característica maior, é a sina de ser feliz e contar histórias. Quem atinar para o que escuta, entenderá que nunca se saberá dessas lorotas pela boca de alguém que não seja um cearense, pois é somente aqui que essas histórias existem.
Essas coisas não dão uma característica do perfil do cearense na hora da encrenca. Foi assim, bravo e destemido, quando nem Ceará ainda existia, nem esse mundão de terra que vieram a chamar de Brasil, que os nativos aqui vivendo de brisa, pesca e safadagem sem pecado, soltou a pocema sobre os primeiros europeus que por aqui chegaram à ponta do Mucuripe querendo se apossar do que não era deles. Foi sob cusparada, tabefe e muita peia com cipó de marmeleiro e cacete feito com vara de jucá, que os espanhóis foram enxotados daqui. E que nunca mais venham arredados de suas terras achando que aqui a gente é tudo besta. Um tempo depois foram os franceses. Aí o povo já estava mais preparado. Já não era tão só índio, era já um pouco dessa mistura que é hoje, que resultou no curiboca. E nem durou muito a desavença, visto que o branquela não agüentava bordoada como os espanhóis que têm sangue mouro, de gente acostumada com briga. Depois dessa farra de lutar, sobraram apenas alguns europeus, domesticados, mais besta que a bestagem do povo daqui, e estes loirinhos correndo pelo litoral, que dizem não saber de onde vieram.
Por isto quando se diz que o cearense é um destrambelhado, é porque ele é afetado por esta falha que faz dele um povo diferente, tão diferente, que sua característica maior, é a sina de ser feliz e contar histórias. Quem atinar para o que escuta, entenderá que nunca se saberá dessas lorotas pela boca de alguém que não seja um cearense, pois é somente aqui que essas histórias existem.
quinta-feira, 16 de julho de 2009
LEMBRAR
lembrar é resgatar
o osso das coisas
pode a coisa não ter pulso
e permanecer intocada
pode a estranheza repelir
a coisa maculada
nem sempre lembrar
é dar solidez
a coisa encantada
o osso das coisas
pode a coisa não ter pulso
e permanecer intocada
pode a estranheza repelir
a coisa maculada
nem sempre lembrar
é dar solidez
a coisa encantada
quarta-feira, 1 de julho de 2009
MORADIAS URBANAS
APARTAMENTO ALBERGUE CASA CASEBRE FAVELA ARRANHA-CÉU CARROÇA CASARÃO PRÉDIO CASARIO MALOCA TABA OCA BARRACO PALAFITA VIADUTO BURACO DE FAVOR MOQUIFO TAPERA PENSÃO INVASOR MANSÃO CORTIÇO VAGA CALÇADA RUA
segunda-feira, 22 de junho de 2009
ELA DISSE UM NOME
Dissera um nome. Antigamente havia sido só silêncio e todos se conformaram com a sua mudez. Viram-na crescer assim, apontando para as coisas quando as queria para si. Mas agora todos sabiam que não era muda porque tinha dito um nome, ali na sala, na presença de todos sem que ninguém lhe pedisse porque todos haviam aceitado a sua condição de muda. Ninguém mais esperava que ela falasse, porque antes, tinham esgotado todos os recursos para que ela aprendesse a soltar o som preso no peito. Quando ela disse a única palavra de sua vida, voltaram a criar esperanças de que ela continuasse a soltar o som. Tinha dito uma palavra e não havia mais razão para não dizer outras.
quarta-feira, 17 de junho de 2009
terça-feira, 9 de junho de 2009
segunda-feira, 8 de junho de 2009
O RIO E O TEMPO
Somos
o que
arrastamos em nossa memória
o que
o corpo escondeu na pele
o resto que transborda de nós
nem a poesia
nem a ciência
dirá ao certo
o que
arrastamos em nossa memória
o que
o corpo escondeu na pele
o resto que transborda de nós
nem a poesia
nem a ciência
dirá ao certo
segunda-feira, 1 de junho de 2009
A ROSA (1)
a rosa terá
um tempo certo para viver
decompondo sua beleza
em silêncio
ela, mais tarde
será só lembrança nas minhas retinas
até que cansadas
esqueçam de sua cor
um tempo certo para viver
decompondo sua beleza
em silêncio
ela, mais tarde
será só lembrança nas minhas retinas
até que cansadas
esqueçam de sua cor
segunda-feira, 18 de maio de 2009
quinta-feira, 14 de maio de 2009
terça-feira, 12 de maio de 2009
NA ÉPOCA DA EXTINÇÃO
Na época da extinção, os últimos foram caçados desesperadamente com todas as armadilhas e sem nenhuma piedade. Havia sobrado pouco deles depois do massacre. No dia geral do extermínio, eram tantos, que tiveram de usar água fervendo e jogar nos esgotos para que ali mesmo morressem. As ruas ficaram entupidas e muitos foram juntados na calçada para dar passagem às pessoas apressadas no ir e vir na tarefa do extermínio. Agora para que fossem extintos de vez da face da terra, tinham que buscas os últimos em todas as grutas. Eles haveriam de ser exterminados pela mão impiedosa dos furiosos. Restaram poucos e por isso mesmo, tinham o dever de não deixar nenhum sobre a face da terra se alimentando da esperança de continuar com a estirpe.
quinta-feira, 7 de maio de 2009
INTENÇÃO
E pode acontecer dos olhos dizerem
e a boca não
E pode da vontade querer
e o corpo permanecer são
E pode da alma entender
e culpar o coração
E pode de parecer
e só ser ilusão
E pode de tudo acontecer
sem ter razão
e a boca não
E pode da vontade querer
e o corpo permanecer são
E pode da alma entender
e culpar o coração
E pode de parecer
e só ser ilusão
E pode de tudo acontecer
sem ter razão
segunda-feira, 4 de maio de 2009
ACONTECIMENTO
A rosa medra
tão frágil
tão fúria
Com calma esfacela o asfalto
Testemunham o fato
os edifícios
o céu
o cimento podre da calçada
menos a pressa do homem
tão frágil
tão fúria
Com calma esfacela o asfalto
Testemunham o fato
os edifícios
o céu
o cimento podre da calçada
menos a pressa do homem
segunda-feira, 27 de abril de 2009
quinta-feira, 23 de abril de 2009
LAVANDEIRAS
segunda-feira, 20 de abril de 2009
terça-feira, 14 de abril de 2009
segunda-feira, 13 de abril de 2009
RELÂMPAGO
quinta-feira, 9 de abril de 2009
NA INFÂNCIA
quarta-feira, 8 de abril de 2009
DEVOÇÃO
era preferível
não ter beijado teus dentes
a memória
ainda tentou esquecer
teu rosto
hoje só te olho
com o mesmo olho
com que o peixe olha a ísca
não ter beijado teus dentes
a memória
ainda tentou esquecer
teu rosto
hoje só te olho
com o mesmo olho
com que o peixe olha a ísca
terça-feira, 7 de abril de 2009
segunda-feira, 6 de abril de 2009
quinta-feira, 2 de abril de 2009
POEMA
mesmo que ali eu não estivesse
ele teria pousado com seu enigma
e depois alçado vôo
na sua possibilidade de pássaro
confundindo a mobilidade da paisagem
a estranheza era meu corpo pousado ali
numa aflição
prestes a quebrar a harmonia no jardim
ele teria pousado com seu enigma
e depois alçado vôo
na sua possibilidade de pássaro
confundindo a mobilidade da paisagem
a estranheza era meu corpo pousado ali
numa aflição
prestes a quebrar a harmonia no jardim
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